Virgínia Marçal, nascida em 1940, partilha memórias da sua vida e das tradições relacionadas com a confeção das Bonecas de Palhais. Crescendo numa época de grandes dificuldades económicas, relata as suas experiências de trabalho desde a infância, destacando a figura da sua mãe, conhecida como "Tia Caseira", uma mulher que desempenhou um papel fundamental na sua família e na comunidade através da produção de bolos tradicionais, as agora conhecidas como “Bonecas de Palhais” e os “Bolos de ferradura”.

Documentário

Desde jovem, Virgínia aprendeu a arte de fazer as "Bonecas de Palhais", pequenos bolos moldados à mão em forma de bonecas, que simbolizam a tradição e a cultura da região, usualmente comercializados nas feiras e mercados locais.

A tradição dos bolos na família de Virgínia remonta à sua avó, Aurélia de Jesus, que enfrentou grandes desafios ao perder o marido e criar quatro filhos com poucos recursos. A avó de Virgínia, para sustentar a família, começou a fazer bolos e a vendê-los. Embora Virgínia não tenha muitas recordações dessa época, e não saiba com quem a avó aprendeu a receita, descreve como Aurélia ensinou essa habilidade às noras, incluindo a sua mãe. Essa transmissão de conhecimento tornou-se uma tradição familiar, passada de geração em geração.

Virgínia recorda com humor o momento em que, ainda criança, viu o primeiro bolo que a sua avó fez e exclamou: "Olha, um chouriço!". Com o tempo, a mãe de Virgínia dedicou-se  a essa atividade, percorrendo diversas localidades nos concelhos de Vila de Rei, Ferreira do Zêzere e Sertã, para vender os bolos.

Atualmente, Virgínia Marçal Duarte é uma das poucas guardiãs da confeção das Bonecas de Palhais no concelho da Sertã. Hoje, a tradição é mantida em família, com a ajuda do seu marido, João Nunes Marçal Duarte, e da neta, Ana Margarida Marçal, que, segundo Virgínia, se mostrou uma “aprendiza habilidosa”.