A tradição de "Maiar as Portas" em Vale do Laço, Troviscal, na Sertã, celebra-se na noite de 30 de abril. Trata-se de um ritual com forte carga simbólica e comunitária, cujo objetivo era afastar a fome e garantir fertilidade e abundância. Esta prática tem uma forte ligação ao ciclo agrícola e à proteção dos bens essenciais da casa e da lavoura.
A celebração do mês de maio, associada à fertilidade da terra e à abundância, tem raízes em tradições pagãs europeias, posteriormente assimiladas pelo calendário cristão. Em várias regiões portuguesas, maio é celebrado com cantares, enfeites florais, cortejos e outras práticas. Em Vale do Laço, a tradição de Maiar as Portas tem como principal objetivo proteger a casa da “fome de maio”, um período difícil antes da chegada das novas colheitas.
O mês de maio era historicamente conhecido como o "mês da fome" nas comunidades agrícolas. Depois de um inverno longo, as reservas alimentares esgotavam-se, e as novas colheitas ainda estavam por vir. Em Vale do Laço, esta escassez ganhava contornos simbólicos, refletidos num gesto ritualístico: colocar ramos e flores nas portas das casas, currais e espaços de armazenamento (como adegas e arrecadações). O ritual era transmitido entre gerações, como recordam Alzira Silva, Maria de Lurdes e Piedade Martins.
Segundo as memórias orais recolhidas, esta prática remonta, pelo menos, aos tempos das avós das entrevistadas. Apesar da sua aparente simplicidade, era um gesto carregado de intenções protetoras e desejos de prosperidade para a família e os animais, que mantém, atualmente, significado cultural e social.