Na freguesia da Cumeada, o Cantar das Florinhas realiza-se nos domingos de maio. As crianças, conduzidas por catequistas no interior da igreja, aproximam-se do altar com pequenos ramos de flores. Esta espécie de procissão é organizada em paragens: a cada estrofe cantada pelas crianças, a assembleia responde com um estribilho que se repete. A letra tem sido cuidadosamente mantida, com versos que se distinguem claramente da versão da Sertã.
Letra da Cumeada
Crianças:
Eu quero vos dar, ó Maria,
Um ramo, um ramo feito por mim.
Tenho as florinhas plantadas,
Na minha alma, na minha alma é um jardim.
Tenho as florinhas plantadas,
Na minha alma, na minha alma é um jardim.
Coro/assembleia:
Estas mais formosas flores
Que deu hoje, que deu hoje o meu jardim.
Ó Virgem Mãe de amor,
Hoje ofertá-las, hoje ofertá-las eu vim.
Ó Virgem Mãe de amor,
Hoje ofertá-las, hoje ofertá-las eu vim.
Crianças:
Por estas flores, ó Virgem,
Sei que tens, sei que tens predileção
Um perfume tão suave
Que faz pulsar, que faz pulsar meu coração.
Um perfume tão suave
Que faz pulsar, que faz pulsar meu coração.
Coro/assembleia:
Estas mais formosas flores
Que deu hoje, que deu hoje o meu jardim.
Ó Virgem Mãe de amor,
Hoje ofertá-las, hoje ofertá-las eu vim.
Ó Virgem Mãe de amor,
Hoje ofertá-las, hoje ofertá-las eu vim.
Crianças:
Estas flores, ó Virgem,
Eu vo-las, eu vo-las quero ofertar.
Eu bem sei que tu, ó Virgem,
Sob o teu, sob o teu manto as hás de guardar.
Eu bem sei que tu, ó Virgem,
Sob o teu, sob o teu manto as hás de guardar.
Coro/assembleia:
Estas mais formosas flores
Que deu hoje, que deu hoje o meu jardim.
Ó Virgem Mãe de amor,
Hoje ofertá-las, hoje ofertá-las eu vim.
Ó Virgem Mãe de amor,
Hoje ofertá-las, hoje ofertá-las eu vim.
Crianças:
Lembrai-vos que vos pertenço,
Terna Mãe, Senhora nossa.
Ai, guardai-me e defendei-me
Como coisa própria vossa.
Ai, guardai-me e defendei-me
Como coisa própria vossa.
Coro/assembleia:
Senhora Virgem eu sou Vossa
De quem o não há de ser.
Fazei senhora que eu seja
sempre e sempre até morrer.
Fazei senhora que eu seja
sempre e sempre até morrer.
Na freguesia da Cumeada, a celebração do “Bom Pastor” é outra da manifestação religiosa de carácter comunitário que possui forte enraizamento local. Tradicionalmente realizada no tempo pascal, esta festividade não tem data fixa, pois depende do calendário litúrgico da Páscoa. Em 2025, por coincidência, a celebração ocorreu no dia 11 de maio, coincidindo com a celebração do “Cantar das Florinhas”. o “Bom Pastor” consiste numa oferenda coletiva feita pelas famílias da freguesia aos seus pastores — os padres — sob a forma de bens produzidos localmente, como legumes, frutas, broas, azeite ou flores, numa lógica de partilha e gratidão. Os produtos são reunidos no espaço da igreja e oferecidos e expostos junto ao altar durante a missa (após o ofertório), num gesto que recupera práticas antigas de sustento comunitário do clero e simboliza a entrega da comunidade ao seu guia espiritual. O Padre é visto como o “Bom Pastor” que conduz o rebanho.
Na vila da Sertã, o “Cantar das Florinhas” integra-se nas celebrações do mês de maio, com particular relevo no dia 12, em que se realiza a tradicional procissão em honra de Nossa Senhora de Fátima. Como na Cumeada, a celebração envolve essencialmente as crianças da catequese que seguram pequenos ramos de flores e o momento do canto desenrola-se de forma estruturada: as crianças iniciam o cântico com uma estrofe, avançam lentamente pelo corredor central da igreja, e a assembleia responde com um estribilho. Este movimento alternado entre canto e caminhada culmina junto ao altar, onde as flores são depositadas (ou lançadas em pétalas) como oferenda a Maria.
A procissão de 12 de maio constitui o momento mais solene e exteriorizado desta prática devocional. Realiza-se após a celebração eucarística e percorre algumas das ruas centrais da vila da Sertã (dando a volta à Praça da Républica e retornando à Igreja). A composição da procissão obedece a uma organização simbólica que evidencia elementos do património material e imaterial local. Na dianteira segue a cruz processional, acompanhada por lanternas, seguida das bandeiras da paróquia, dos Mensageiros de Fátima e do grupo de jovens. Logo após, caminham as crianças vestidas como os “três pastorinhos”, uma introdução relativamente recente (últimos 25 anos), mas que reforça a ligação simbólica à mensagem de Fátima. A imagem de Nossa Senhora de Fátima segue na retaguarda, transportada num andor decorado com flores, muitas das quais oferecidas por famílias da paróquia. As velas, outrora acesas na igreja, hoje apenas se iluminam já nas ruas, por questões de segurança e organização. A procissão é acompanhada musicalmente e conta com a presença constante do Corpo Nacional de Escutas, cuja ligação a Maria é destacada no testemunho local (“Maria é considerada a mãe dos escuteiros”).
Ao regressar à igreja, e depois de todos se acomodarem, as meninas das florinhas entoam os cânticos finais, encerrando o momento com a última estrofe e a entrega simbólica das flores. Esta encenação revela uma articulação entre património material — cruzes, andores, bandeiras, flores — e património imaterial — canto, gestos devocionais, organização processional — que, no seu conjunto, sustentam uma expressão viva da fé mariana local.
Letra da Sertã
Crianças:
Aceitai estas florinhas,
Ó Virgem pura cecém,
Aceitai-as como oferenda
Do nosso amor, doce Mãe.
Coro/assembleia:
Ó Maria Imaculada,
Lá vem empíreo, nívea flor,
Ateai em nossas almas
As chamas do vosso amor!
Crianças:
Fitai em nós, vossos filhos,
Meigo olhar, olhar de amor.
Destas flores seja a paga:
Um olhar por cada flor.
Coro/assembleia:
Ó Maria Imaculada,
Lá vem empíreo, nívea flor,
Ateai em nossas almas
As chamas do vosso amor!
Crianças:
Na hora da nossa morte,
Vinde-nos, ó Mãe, valer.
Lembrai então as florinhas
Que hoje aqui vimos trazer.
Coro/assembleia:
Ó Maria Imaculada,
Lá vem empíreo, nívea flor,
Ateai em nossas almas
As chamas do vosso amor!