Estudo sobre as salinas - Download PDF |
Descrição
As salinas de Rio Maior, também denominadas de ‘marinhas da Fonte da Bica’[1] localizam-se a 3 km de Rio Maior, na localidade de Marinhas do Sal, “na zona sul da área protegida do Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros, a 99 metros de altitude e ocupam uma área com cerca de 21 865 m2. Estas são as únicas salinas de interior atualmente em exploração em Portugal”. [2]
Nos dias de hoje, as salinas são constituídas por 470 talhos ou cristalizadores, de planta retangular e trapezoidal, cavados e delimitados entre si por tábuas de madeira ou muros de cimento. O aquífero salino provém de um poço com cerca de 9 metros de profundidade localizado na zona central das salinas. A época de funcionamento das salinas e extração do sal situa-se entre maio a setembro, e cada ciclo de evaporação do sal até à formação dos cristais dura, em média, sete dias. Este ciclo integra diversas fases e procedimentos: retirar a água do poço e encaminhá-la para os esgoteiros ou concentradores onde é depurada e evaporada aumentando a salinidade; colocar a água nos talhos; regar o sal; mexer o sal; rodar/rapar o sal; juntar e secar o sal em pirâmides nas eiras; carregar o sal para os armazéns.
O filão de sal-gema é atravessado por uma corrente de água subterrânea que se torna depois salgada e que irrompe no poço.[3] A água destas salinas é cerca de sete vezes mais salgada do que a água do mar, sendo equiparada à salinidade do Mar Morto e dos lagos Utah e Salgado – “De acordo com a análise química de Charles Lepierre feita à salmoura na década de 1930, no poço que ainda hoje existe e a partir do qual se produz o sal nos tanques de evaporação, a solução tinha um TSD da ordem dos 200g/kg de solução [salinidade muito elevada], onde os 213, 34g/l de cloreto de sódio contido representavam 96%”.[4]
Embora não seja conhecida a data concreta da origem destas salinas, sabe-se que têm pelo menos 800 anos, pela existência de uma carta de 1177, através da qual Pêro Baragão (d’Aragão) e sua mulher Sancha Soares venderam aos Templários parte destas salinas. No entanto, vários historiadores acreditam que a existência das salinas de Rio Maior seja muito anterior ao séc. XII.
Até 1979, a gestão das salinas era privada, sendo o trabalho de extração e venda do sal realizado sob a responsabilidade dos diferentes proprietários dos talhos, quer diretamente, quer através de salineiros rendeiros, com quem repartiam parte da produção. Nesta data, devido à dificuldade de escoamento do sal e consequente abandono e degradação de alguns dos talhos das salinas,[5] foi fundada a Cooperativa Agrícola de Produtores de Sal de Rio Maior que é, atualmente, responsável pela maioria da produção, armazenamento e comercialização do sal.
Na zona envolvente das salinas existe um aglomerado de pequenas casas de madeira, cuja função original era o armazenamento do sal dos vários produtores, mas que atualmente servem sobretudo como espaços ligados ao comércio e ao turismo, ficando a maioria do sal armazenado em grandes armazéns de madeira que são propriedade da Cooperativa constituída em 1979.
[1] Salinas, marinhas e salgado são expressões com o mesmo significado (Calado e Brandão, 2009).
[2]https://mesozoico.wordpress.com/2009/05/25/as-salinas-de-rio-maior-%E2%80%93-do-presente-ao-passado/. Acesso em 19/10/2019.
[3]“As salinas encaixam-se num Vale Tifónico, onde abundam rochas evaporíticas (…) – salgema e gesso, rodeadas por argilas e calcários. As rochas evaporíticas são pouco densas e apresentam um comportamento plástico, o que conjuntamente com a existência de um sistema de falhas permitiu o seu movimento ascensional – diapirismo – originando um vale (Vale Tifónico)” in https://mesozoico.wordpress.com/2009/05/25/as-salinas-de-rio-maior-%E2%80%93-do-presente-ao-passado/. Acesso em 19/10/2019.
[4] Lepierre (1936) citado in Calado & Brandão (2009), pp.48.
[5] Uma vez que cada proprietário apenas dispunha de pequenas quantidades de sal para venda, o que não dava resposta às necessidades das grandes empresas com interesse na compra de sal em grande volume.