O espaço envolvente das salinas é composto por pequenas casas, com uma planta retangular simples, tradicionalmente cobertas por telhados de 2 águas, com fachadas em madeira, abertas por molduras simples retangulares nas portas e janelas. A maioria ainda mantém a traça original com alguns dos seus elementos característicos como a existência de um tronco de oliveira no suporte à estrutura da casa, e as fechaduras e as próprias chaves construídas em madeira.
Antigos armazéns de madeira ©Memória Imaterial.
Até à formação da cooperativa, estas casas tinham como função o armazenamento do sal, embora por vezes, também servissem para os salineiros pernoitarem.[1] Algumas destas casas funcionavam como tabernas. O taberneiro anotava os consumos em tábuas de madeira, com cerca de 1 metro e meio de comprimento por 10 a 15 cm de largura, cada uma delas descrevendo a conta de um freguês. Na régua, com recurso a uma simbologia específica (círculos, semicírculos e traços) era registada toda a despesa que os clientes iam fazendo ao longo da safra, bem como os pagamentos que iam efetuando. As tábuas ficavam penduradas nas paredes da taberna e normalmente as contas eram fechadas quando os salineiros terminavam a safra, com os pagamentos feitos em sal.
Tábuas de madeiras onde se registava o consumo nas tabernas ©Memória Imaterial.
Atualmente o sal é transportado e guardado em grandes armazéns de madeira pertencentes à cooperativa e as pequenas casas de madeira adquiriram novas funcionalidades ligadas ao comércio e ao turismo local.
O turismo tem sido um dos fatores responsável pela sobrevivência e revalorização das salinas, sobretudo, a partir das décadas finais do séc. XX. A crescente afluência das pessoas às salinas permitiu, por um lado, dar a conhecer o sal de Rio Maior, e os produtos subderivados aumentando as vendas, e por outro, revalorizar a aldeia multiplicando os espaços de comércio (lojas de venda de sal e outros produtos locais, lojas de artesanato, cafés e restaurantes) nas antigas casas de armazenamento do sal.
Casas de madeira e fechadura ©Memória Imaterial.
António Elias, tem a sua oficina de carpintaria e marcenaria na aldeia. A sua avó foi a primeira habitante da aldeia, quando as pessoas se deslocavam para ali na época de verão para trabalhar no sal, e por ali pernoitavam nas casinhas de madeira, pelo que conhece bem aquele lugar. Conheceu o período do abandono das salinas e da consequente degradação das casas do sal, e não hesita em afirmar que foi “o turismo e o comércio que salvou [as casas de madeira]”.
Hoje, 60 a 70% do trabalho que faz com as madeiras é para a aldeia das salinas, seja para recuperação e assistência às casas antigas, seja na construção de mobiliário e utensílios para as lojas e salineiros, ou ainda na criação de peças de artesanato que replicam alguns dos elementos característicos das salinas de Rio Maior. Uma das peças mais procuradas pelos visitantes é a fechadura de madeira, tipicamente utilizada nas casas de sal. As fechaduras, tal como as suas chaves, eram totalmente construídas em madeira, para que fossem mais resistentes ao efeito corrosivo do sal.
Atualmente, ainda podemos ver as fechaduras originais em muitas das casas existentes nas salinas, embora já complementadas por uma nova fechadura, sobretudo por questões de segurança.
Casas de madeira ©Memória Imaterial.
Casas de madeira ©Memória Imaterial.
[1] http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=2173 Acesso em 27/09/2019.