Luís Lopes e o seu irmão João pertencem à quarta geração de salineiros, tanto pela parte da mãe como por parte do pai. O espaço onde se situa hoje a Loja do Sal existe há cerca de 150 anos, também o seu bisavô ali comercializa sal e geria uma pequena taberna.

Da infância, Luís lembra-se de acompanhar o avô na venda do sal à medida,[1] de carregar pequenas sacas para ajudar no seu armazenamento, e das brincadeiras que aconteciam, depois de sair da escola, sempre em redor do sal e das salinas: “Boas memórias que recordamos com muita alegria, com um valor afetivo muito grande”.

 Loja do Sal ©Memória Imaterial.

Desde 2009, data em que criaram a marca ‘Loja do Sal’, que trabalha com a família para preservar a herança do passado e melhorá-la, através de novos produtos que vão criando e testando no seu ‘laboratório’ - um espaço de onde já saíram mais de 50 subprodutos derivados do sal. Um destes produtos, que foi recuperado da tradição familiar é o queijo de sal, que o seu avô já fazia, e que a sua mãe, Emília Lopes, continua a fazer.

Os Queijinhos de Sal são uma forma diferente de apresentar o sal na mesa. O sal é compactado em forma redonda, como se fosse um queijo, e cozido em forno de lenha muito aquecido. O queijo de sal pode ser feito de sal ou de “espuma de sal”, produto que se produz na salina quando está muito vento (flor de sal é empurrada pelo vento para o canto dos talhos formando um sal muito fino).  O queijo faz-se numa francela (mesa com um sulco, por onde escorre o líquido que ainda existe no sal). A primeira fase consiste na moldagem do queijo, compactando-se o sal húmido numa forma redonda (um trincho). Desforma-se e, numa segunda fase, fica dois ou três dias ao sol. Por fim, vai cerca de 12 horas ao forno a lenha muito aquecido, sendo depois embalado. Pode ser feito só com sal ou com mistura de sal e pimenta. Usa-se usualmente como tempero de comida já confecionada, raspando-se com uma faca.

 Preparação do queijo de sal ©Memória Imaterial.

Para além do queijo de sal, a Loja do Sal comercializa diversos tipos de sal e produtos dele derivados: sal das salinas de Rio Maior, sal com ervas aromáticas, sal com especiarias, flor de sal, flocos de sal, exfoliantes, chocolate com flor de sal, entre muitos outros. Luís Lopes refere a importância da diferenciação dos produtos, potenciando as características específicas das diferentes zonas das salinas: “(…) cada cantinho faz um produto diferente, e há um cliente à espera desse produto”.

Extração do sal - Loja do Sal ©Memória Imaterial.

Fernando Alves, pai de Luís, também trabalha nas salinas desde criança e hoje junta-se à mulher e aos filhos neste projeto da Loja do Sal, sendo o responsável pela extração e produção de todo o sal comercializado na sua loja. Refere que, atualmente, a comercialização do sal é muito fácil porque têm produtos de grande qualidade, com elevada procura, e não acredita que as salinas possam acabar: “Existe uma rocha de sal-gema muito grande! Enquanto houver pessoas a trabalhar, a salina não acaba”.


[1] O sal era tradicionalmente vendido com recurso a uma ‘rasa’, uma espécie de caixa de madeira, que servia de medida.