Virgínia Marçal, nascida em 1940, partilha memórias da sua vida e das tradições relacionadas com a confeção das Bonecas de Palhais. Crescendo numa época de grandes dificuldades económicas, relata as suas experiências de trabalho desde a infância, destacando a figura da sua mãe, conhecida como "Tia Caseira", uma mulher que desempenhou um papel fundamental na sua família e na comunidade através da produção de bolos tradicionais, as agora conhecidas como “Bonecas de Palhais” e os “Bolos de ferradura”.
Virgínia descreve como a vida era difícil naquela época, mas também cheia de alegria e camaradagem. Ela fala das viagens longas e exaustivas que fazia com a sua família, carregando cestos de bolos, loiça para café e refrescos, tudo à cabeça. As festas populares eram ocasiões importantes para a venda dos bolos, e as viagens a pé eram a única opção de transporte, o que tornava o trabalho ainda mais árduo. Virgínia menciona, com saudade, como essas viagens eram também momentos de diversão, com as pessoas a cantar e a fazer brincadeiras pelo caminho. Como tempo, passaram a recorrer aos carros para se deslocarem o que facilitou muito a venda dos bolos.
De acordo com Virgínia Marçal, a receita das Bonecas é simples, mas exige trabalho, cuidado e experiência. Usualmente faz-se a receita para 15 a 18 quilos de farinha. Na confeção que a Virgínia e a sua neta fizeram para este registo usaram as seguintes quantidades:
5 kg de farinha sem fermento, 1,8 kg de açúcar, 200 gramas de fermento de padeiro, 125 gramas de erva-doce, 60 gramas de canela, uma pitada de sal, 6 ovos, e água morna.
Ao longo da entrevista, Virgínia fala sobre como os tempos mudaram, expressando um misto de orgulho e preocupação em relação à continuidade da tradição. Embora a tradição dos bolos tenha resistido ao tempo, refere que as novas gerações, incluindo a sua neta, enfrentam desafios em manter essa herança viva, especialmente devido à falta de incentivos e à dificuldade do trabalho manual.