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Capela do Espírito Santo de Casais Brancos (2022)

 

Casais Brancos e Vale Benfeito

No lugar de Casais Brancos, da freguesia de Aldeia Galega da Merceana, ainda hoje e à imagem do que acontecia no passado, as festas anuais são celebradas em honra do Espírito Santo (com início no segundo domingo de julho).

Maria da Conceição Gomes (2021)[1] lembra-se da festa do Espírito Santo ser em agosto, nos anos 30−40 do séc. XX. Nessa altura, fazia-se a missa campal, contratavam-se músicos que percorriam a aldeia e faziam-se bailaricos no largo. Diz que não se fazia a procissão. Luís Cipriano (2021)[2] conta que os mais velhos lembram-se da banda de música vir à festa “tocar valsas e tangos”, refere que na altura a festa “tinha duas bandas a tocar ao desafio”. As pessoas faziam dois coretos e com as “coisas que apanhavam aí no campo − murta, alecrim e rosmaninho − faziam um arraial (…) muito bonito, tudo enfeitado à moda antiga”.

Luís Cipriano acrescenta que nos anos 60−70 houve um interregno das festas, até se dizia: “Olha a Festa caiu dentro de um poço, nunca mais de lá saiu!”. Explica que foi depois do 25 de abril que a comunidade criou a primeira Comissão de Moradores e decidiu restaurar a festa do Espírito Santo tal como é hoje: com quermesse, coreto, arraial, bailes e a “banda ao domingo [de manhã para] fazer o peditório, [quando] se leva o estandarte do Espírito Santo de porta em porta, (…) [e à] tarde, para a procissão”.

Com o dinheiro angariado nas festas, a comissão construiu a capela do Espírito Santo e o salão da coletividade.

Existe uma curiosa tradição nesta aldeia que relaciona as origens da celebração do Espírito Santo com o vento, indica Luís Cipriano. Diz-se que em “tempos idos” havia mais de duzentos moinhos em Casais Brancos e os moleiros da região fizeram a promessa de organizar a festa ao Espírito Santo na aldeia caso fossem abençoados com vento todo o ano. A lenda diz que esse foi o motivo porque começaram os festejos naquela localidade e porque, ainda hoje, por altura da festa há sempre “um grande vendaval”. Os mais velhos até costumam dizer: “Não há de a festa ter vento, ela foi feita para pedir vento”.

A presença de Casais Brancos nos festejos de Aldeia Galega onde “havia uma grande Festa do Espírito Santo no Pentecostes” é tradição de longa data. “Aí é que dizem que havia esse bodo com sopa e com carne”, comenta Cipriano, acrescentando que desde que revitalizaram esses festejos, uma delegação de Casais Brancos desloca-se a Aldeia Galega para marcar presença nas celebrações, levando consigo a sua coroa e estandartes.

Acerca destas insígnias, houve um tempo em que as aldeias de Casais Brancos e Vale Benfeito partilhavam o mesmo estandarte. “A posse e guarda do estandarte alternava entre as duas comunidades conforme aconteciam as celebrações”. Mais tarde Casais Brancos comprou a parte do de Vale Benfeito e ficou com o estandarte antigo só para a sua comunidade, enquanto Vale Benfeito comprou um novo estandarte. Atualmente Casais Brancos possui dois estandartes, o antigo e um mais recente oferecido por uma família local (Luís Cipriano, 2021).

 

[1] Em entrevista, em representação da comunidade de Casais Brancos.

[2] Em entrevista, em representação da comunidade de Casais Brancos.