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Capela do Espírito Santo de Aldeia Gavinha (2022)

 

Aldeia Gavinha

Em 2022 a comunidade de Aldeia Gavinha integrou os festejos de Aldeia Galega. Mas de forma intercalar, a festa realiza-se na aldeia, e nesses anos a comissão local trata da organização da procissão, da decoração da igreja e da preparação do bodo.

Existe em Aldeia Gavinha, uma ermida dedicada ao Espírito Santo com azulejos datados do séc. XVII. Em meados do século XVIII, o Dicionário Geográfico de Luís Cardoso (1747−1751), dá-nos conta que “neste Lugar se acha uma Ermida do Espírito Santo antiga, e ainda nela se conserva aquela antiga festividade, que faziam com Imperatriz ao Domingo do Espírito Santo, indo desta igreja ao lugar da Merceana à igreja da mesma Senhora da Merceana, aonde se juntam outras Imperatrizes de outros Lugares” (p. 212).

Maria Fernanda Miguel (2022),[1] hoje com 61 anos, diz não ter memória de haver procissão do Espírito Santo em Aldeia Gavinha. Diz que “a capela dedicada ao Espírito Santo, (…) não estava em uso” e só há cerca de 35 anos foi restaurada por “um grupo de pessoas da terra”. Recorda ainda que “havia histórias contadas pelos nossos avós, mas de sentido pagão [pois] a capela tinha sido, numa época, uma taberna”. Refere que também não tinham coroa, mas a comunidade angariou meios para comprar uma.

Ana Maria Timóteo (2022),[2] explica que quando se organizam as festas começa-se, na semana anterior, pelo embelezamento da aldeia com as colchas que se vão buscar a Alenquer ou a outra comunidade do concelho onde elas estejam. A Comissão das FIDES de Alenquer estabelece com as organizações locais do concelho, um calendário das festas para não sobrepor datas e otimizar meios de apoio, entre os quais as colchas vermelhas decoradas com a pomba branca que são utilizadas nas janelas e varandas das aldeias durante a procissão. As pessoas que pretendem usar as colchas, vão solicitá-las à comissão local e mais tarde devolvem-nas para novo uso noutra aldeia. Maria Fernanda refere que, “entretanto, as pessoas começaram a fazer os seus estandartes com a pomba do Espírito Santo, começaram a organizar-se e guardam-nos de uns anos para os outros” nas suas casas. Ana Maria Timóteo acrescenta que, nos anos em que a festa se realiza em Aldeia Gavinha, na manhã escolhida para a procissão, começa a preparação do bodo. Durante a tarde para a cerimónia religiosa, as comunidades vizinhas também comparecem: “aparecem as coroas da vizinhança − a Aldeia Galega aparece, Alenquer aparece… as pessoas participam, vão à procissão e levam a coroa (…) e também vai o estandarte de Santa Maria Madalena que é a nossa padroeira”. A confraria do Senhor dos Passos de Alenquer também é presença assídua nesta procissão.

Na procissão, o tocador de gaita de foles segue à frente, seguido dos porta-estandartes, nomeadamente os de S. Luís, Senhora do Monte, Montegil, S. Sebastião da Mata e outros pertencentes a paróquias vizinhas que se querem associar à festa, as irmandades, as coroas e o estandarte do Espírito Santo. Depois vem o padre e a população. A procissão faz o percurso da “procissão maior” e termina na capela do Espírito Santo.

Depois, as pessoas seguem para a associação para o bodo onde se serve a sopa, que é muito apreciada por todos. Ana Maria refere que esta é uma sopa de carne cozida, com hortaliça, feijão, chouriço e, quando está quase pronta, junta-se a massa para ficar mais espessa. No fim junta-se hortelã e coentros picados, “que são o segredo” local, comenta sorrindo. O bodo é ainda guarnecido com arroz-doce, tremoços e outros doces e salgados que as pessoas trazem para a mesa.

 

[1] Em entrevista realizada no âmbito desta pesquisa, em representação da organização dos festejos de Aldeia Gavinha.

[2] Em entrevista realizada no âmbito desta pesquisa, em representação da organização dos festejos de Aldeia Gavinha.