Alenquer

“Nós acreditamos nesta força do Espírito que sopra onde quer e que vai trabalhando o coração dos homens e que não deixa de nos surpreender. E as festas têm toda esta valência, não é apenas uma manifestação religiosa, mas é muito mais do que isso, porque o Espírito Santo é universal” (Diácono Duarte João, 2022).

 

Os festejos de abertura e encerramento das FIDES acontecem na vila de Alenquer. As festas iniciam com a Entronização das insígnias − a coroa e o estandarte − no primeiro fim de semana, no domingo de Páscoa. Continuam nos domingos seguintes pelas diversas localidades do concelho e terminam, com a procissão da luz, a missa, a procissão do Espírito Santo e o bodo no último fim de semana, no domingo de Pentecostes, novamente na vila.

Após a missa de Páscoa na igreja do Convento de S.Francisco em Alenquer há a cerimónia de abertura das festas. Uma pequena procissão entra na igreja com os dois símbolos da festa do Espírito Santo, transportados por jovens. A coroa e a bandeira. Estes são colocados junto ao altar, entronizados, acompanhados por um cântico de louvor. Aí são incensados. Com esta cerimónia assinala-se o início das Festas.[1]

No fim de semana de Pentecostes, as ruas da vila que recebem as festas de encerramento das FIDES estão decoradas com arcos e frontões de flores.

 

Procissão da Luz na vila de Alenquer (2022)

 

No sábado, a Procissão da Luz, realizada à noite, parte da igreja do Espírito Santo, sobe até à praça Luís de Camões onde está a Câmara Municipal e termina na igreja do Convento de S. Francisco. Todo o percurso está ladeado por candeias, a que se juntam as velas transportadas pelos participantes, criando uma mancha de luz que se desloca pela vila. “É uma procissão muito participada, sobretudo pelos jovens, (…) que se vão crismar, receber o sacramento do Espírito Santo no dia seguinte. São os jovens que se encarregam de organizar esta Procissão da Luz”, explica o Diácono Duarte João (2022).

Esta procissão tem uma estrutura simples. À frente seguem o crucifixo e a bandeira do Espírito Santo acompanhados por um pequeno grupo de jovens. Seguem-se os padres, o diácono, mais jovens e o coro. Atrás e numa extensa fila, vêm os restantes participantes, muitos transportando uma vela acesa.

 

Procissão do Espírito Santo em Alenquer (2022)

 

No domingo, dia de Pentecostes,[2] são colocados tapetes de flores no chão, em frente à Câmara Municipal e em frente da igreja do Espírito Santo.

Durante a manhã, e até ao início da missa, vão chegando à igreja do Convento de S. Francisco os representantes das festas de todo o concelho com as respetivas insígnias e oferendas simbólicas.

Após a missa solene presidida por um bispo, normalmente o patriarca de Lisboa, começa a procissão do Espírito Santo, que é a mais extensa que se faz em Alenquer.

 

Orquestra de Foles que encabeçou a Procissão do Espírito Santo em Alenquer (2022)

 

À frente segue um grupo musical com gaitas de foles, bombo e caixa.[3] Segue-se o grupo que transporta o crucifixo e o estandarte da festa, depois os representantes das freguesias e outras forças vivas locais, como os escuteiros, a irmandade do Senhor dos Passos e as misericórdias. Seguem-se as delegações das confrarias e representantes das festas organizadas nas outras localidades do concelho com os seus pendões, coroas, bandeiras e oferendas (pão e vinho). No meio da procissão segue o palanque com o Bispo, padres e acólitos, seguido pelos representantes políticos da vila. Depois marcha a banda filarmónica[4] e, finalmente, o extenso grupo de participantes civis na procissão. A banda filarmónica e o grupo de gaitas de foles tocam em simultâneo mas a extensão da procissão é tal que o som de ambas não se sobrepõe.

A procissão desloca-se lentamente pelas ruas da vila alta, contorna o Largo Luís de Camões andando sobre os tapetes de flores colocados em frente ao edifício da Câmara Municipal, e segue pela Rua Pêro de Alenquer até ao Castelo. Aí curva para a Calçada Damião de Góis, por onde desce até atingir as margens do rio que atravessa na zona de Triana para seguir pela parte mais recente da vila. A procissão prossegue até voltar a atravessar o rio e deter-se no Largo do Espírito Santo onde se desenrola uma curta cerimónia da bênção do pão que as freguesias trouxeram em oferenda. A procissão desloca-se novamente até à igreja do Espírito Santo onde se depositam os estandartes, coroas e bandeiras. Os participantes retiram as opas[5] e todos se encaminham para o bodo junto à igreja e à albergaria.

 

Embelezamento das ruas da vila de Alenquer (2022)

 

O bodo de Alenquer é extenso e rico, com diversos grupos a oferecer as sopas do bodo, acompanhadas por pão, pequenos salgados, doces diversos, vinho e outras bebidas. Os participantes da procissão, habitantes locais e visitantes espalham-se pela área do bodo num convívio que se prolonga pelo fim da tarde.

“A mesa tem um condão. Quando um grupo se senta à volta de uma mesa, gera-se naturalmente um espírito de convivialidade, criam-se laços, constroem-se amizades novas, surgem namoros (…) é assim, o amor está lá! Portanto, pôr à volta de uma mesa toda uma comunidade, isso é bom, é positivo” (Diácono Duarte João, 2022).

Em 2022, à semelhança do que tem acontecido nos anos anteriores, a Câmara Municipal desenvolveu uma série de atividades paralelas aos festejos que incluíram um programa cultural com diversos concertos de música sacra, teatro, dança, pintura e conferências. Também esteve presente uma delegação do Império da Ilha Terceira, dos Açores, que ofereceu a toda a população um bodo terceirense no dia 4 de junho.

 

 



[1] Que em 2022 aconteceram no dia 17 de abril.
[2] Que em 2022 calhou no dia 5 de junho.
[3] Em 2022, o grupo Orquestra de Foles.
[4] Em 2022, a Sociedade Filarmónica Musical Alenquerense (SUMA).
[5] Capas sem mangas, com aberturas para enfiar os braços, usada por confrarias e irmandades religiosas em cerimónias.