- Categoria: PCI / Saber-Fazer
- Local do registo: Casais Brancos
- Freguesia: Aldeia Galega da Merceana
- Concelho: Alenquer
- Data do registo vídeo: 1-6-2021
- Título: MEMÓRIAS e TRADIÇÕES - Alenquer
- Entrevistados: Mª Conceição Gomes
- Ano nascimento: 1943
- Entrevista: Memória Imaterial
- Transcrição: CLDS4G
A Visita da Nossa Senhora de Fátima-anos 50
“Não sei se [eu] tinha 7 [anos], se tinha 8, andava na escola. A escola era ali no largo, onde é agora o supermercado, numa casita velha e quando veio a Senhora de Fátima para Aldeia Galega, a gente não tinha estrada — era uma estrada velha, que só passava uma carroça ou um carro com bois —, e então não queriam que a Senhora de Fátima cá viesse porque não havia estrada para vir. Havia lá naquela altura um padre em Aldeia Galega que chamavam o padre Gata, não sei se ele tinha outro nome, sei que ele teve lá muitos anos (que eu fiz comunhões com ele e tudo) e ele veio ver e disse: "Não, aonde ela vai é a Casais Brancos, porque não tem caminho, mas tem que lá ir a Nossa Senhora". E então trouxeram-na, os homens traziam Nossa Senhora às costas e veio, Nossa Senhora esteve cá. E ele mandou para cá um padre que esteve cá uma semana a ensinar as pessoas mais velhas que não sabiam rezar e assim, ensiná-las como é que elas se haviam de se apresentar.
(…) Não havia luz era candeeiros a petróleo, (…) nas batatas grandes tiravam-lhe o miolo e pulham-lhe azeite e faziam uma torcida de trapo (metiam os rapazecos a fazer), (…) e cascas de caracol — meteram (…) [os] pequenos por aí pelas balsas a apanhar as cascas dos caracóis e punham azeite e [acendiam]. Ficou muito bonito o lugar. Fizeram com crianças da escola, pastorinhos, puseram assim altares e os pastorinhos à espera de Nossa Senhora foi muito bonito. O padre ficou muito contente com aquilo e depois lembro-me de ela cá vir outra vez, mas já foi mais tarde, já eu era mais crescida.”
O Cavalinho e o Carnaval
“Um cavalinho eram dois homens, que punham-se um à frente e outro atrás e punham um pano que só se via os pés. E então iam ao pé de uma pessoa [e] diziam lá uma coisa qualquer que eles entendem-se e davam muitos pulos, muitos pulos (de roda daquela pessoa) e depois a pessoa gostava ou não gostava, era conforme o que eles diziam.
Lembro-me que a minha mãe coitadinha era muito doente, mas gostava muito de bailes, e então o meu pai dizia que ela para o baile nunca estava doente e uma vez fez isso, disse aos colegas para irem lá dizer isso e ela ficou muito danada com ele, com o meu pai e com o cavalinho que não sabia quem era (…). Depois eles iam rir para um lado e as pessoas ficavam a ralhar para o outro. Uns gostavam, outros não gostavam. Mas isso depois também acabou.
E era o outro senhor que ficava todo torto — era o Santo Amaro —, levava uma bilha de barro. Ia ao pé das pessoas elas batiam na bilha e diziam: "Ó Santo Amaro cura-me esta perna. Era [com] essas coisas assim que eles se divertiam nos bailes, os mais antigos. A gente eramos mais novos já não achávamos muita graça aquilo. Era só no carnaval, no dia do carnaval.
O entrudo cá era muito divertido, faziam essas palhaçadas todas, vestiam fatos de pessoas a burros e entravam com eles para os bailes e faziam essas palhaçadas. Porque o carnaval cá foi sempre muito divertido, depois é que acabou mais. Falavam a um acordeonista [que] estava aí uma semana.”
O comércio antigo
“Agora temos tudo e não temos nada, e naquele tempo não tínhamos nada e tínhamos tudo. Tínhamos funileiro, tínhamos barbeiro, tínhamos talho, tínhamos 3 lojas mercearias. (…) Não havia cafés era tabernas. Agora não temos nada, só há um supermercado e um café. Mais nada, acabou tudo. Tínhamos isso tudo, no tempo que não tínhamos nem estrada, nem luz, nem nada disso. Saiamos daqui a pé para o trabalho, para Aldeia Galega, para Ribafria, por aí, por essas...para o Paço…para essas quintas assim. De noite tínhamos que levar um candeeiro para ver o caminho, tínhamos estrada, mas era estreita e não dava para passar carros. Depois, a partir do 25 de Abril, é que isto começou a modificar-se mais. Veio a água para cá (…) — da tal fonte que o meu primo já disse, que era na fonte Rainha, para ali para os tanques, que um senhor de cá deu o terreno (…)."