A escola primária
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A Praça dos Homens
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As Festividades do Pereiro
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Os pezudos do Pereiro
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A apanha da cereja e as vidimas
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Enrolar o arame
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A bugalhina
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A Praça dos Homens
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As Festividades do Pereiro
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Os pezudos do Pereiro
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A apanha da cereja e as vidimas
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Enrolar o arame
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A bugalhina
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Categoria: PCI / Saber-Fazer
Local do registo: Ribafria (residência Lages da Freiria)
Freguesia: Ribafria e Pereiro de Palhacana
Concelho: Alenquer
Data do registo vídeo: 7-6-2021

Título: MEMÓRIAS e TRADIÇÕES - Alenquer
Entrevistados: José João Grácio
Ano nascimento: 1954
Entrevista: Memória Imaterial
Transcrição: CLDS4G

A escola primária

“A nossa freguesia do Pereiro de Palhacana teve (…) das 12 primeiras escolas do concelho de Alenquer, sei de cor, sei que a escola do Pereiro é de 1873 e portanto, lembro-me de em miúdo irmos para a escola. Agora há muitas críticas, e ainda bem que as coisas evoluíram, mas na nossa altura íamos a chover com saquinhos de saca para aqui e para acolá, e nas aldeias em redor tudo ia para o Pereiro também, tudo ia para a escola porque era uma obrigação e uma vontade, as pessoas gostavam de aprender a ler.

Sou do tempo em que a senhora professora tinha alojamento na escola. A escola primária do Pereiro tinha um espaço de habitação onde a senhora residia, portanto, havia um contacto diário com as pessoas de Pereiro de Palhacana — a senhora residia lá, pronto era uma pessoa muito acarinhada, reconhecida e muito respeitada, era uma figura muito importante (…).”

 

A praça dos homens

“Trabalhava no campo, lembro-me (…) da "praça" que é uma situação que me ficou na memória - em que as pessoas se reuniam no largo e depois, mediante as necessidades, alguns, portanto, proprietários com mais poder económico e [que] tinham mais propriedades, contratavam os assalariados (outros assalariados faziam as vezes dos patrões e empregados). [Por exemplo,]: hoje eu ia trabalhar (…) para ganhar a jorna (que é o nome que se dá ao pagamento), no outro dia era ao contrário. (…) Havia a [troca] em algumas zonas (…), mas aqui na nossa zona a memória que tenho era de que hoje eu ia e pagava a fulano e no outro dia esse fulano pagava a mim consoante as necessidades.”

 

As festividades do Pereiro

“Lembro-me também do carnaval que era assim uma altura gira na nossa aldeia em que se brincava, havia, portanto, aquele hábito da farinha. O carnaval nas nossas aldeias podia ser melhor ou pior, estúpido ou não, o que é um facto é que brincava-se muito com farinha e com água (…).

A festa da Senhora da Conceição — isso era uma tradição enorme, é pena que se esteja…pronto, neste momento está um pouco mais retraída mas na altura, (…) ainda há 20 anos atrás, (…) as pessoas convidavam as tias e os primos. (…) Depois nas aldeias, que é típico do nosso país, fugiram para os centros urbanos para melhorar a vida e então quando era a altura da festa tudo cá voltada, era um encontro familiar muito interessante. Lembro-me do Natal, dos Reis nem tanto (…). Lembro dos Reis no concelho de Alenquer, sempre teve essa característica, esse acontecimento, agora dos Reis na minha freguesia não me lembro (…).”

 

Os pezudos do Pereiro

“Há uma tradição no Pereiro de Palhacana que é os "pezudos", nós somos conhecidos pelos "pezudos". Nós ouvíamos isto dos nossos pais e avós e antepassados, e houve uma pessoa que aprofundou a pesquisa e acho que há uma família muito tradicional em Pereiro de Palhacana, das primeiras famílias mais antigas, aqueles nomes mais sonantes em que todos os familiares tinham os pés muito grandes, então como esses senhores eram uma referência para a freguesia do Pereiro passaram a ser chamados os "pezudos".”

 

A apanha da cereja e vindima

“Aqui as senhoras iam — chamava-se um rancho um grupo de pessoas—, iam apanhar a cerejeira (…), com o chamado cambo e o cabazinho e que tinham um tipo de farda ou de roupa melhorzinha para ir apanhar a cereja e depois trocavam para não se estragar, é logico né. Iam em grupo e a cantar canções (…), não assisti mas tive conhecimento através das gerações que iam a cantar para o trabalho e que havia canções características. E havia muita cereja, especialmente (não tanto em Pereiro de Palhacana [que] sempre foi mais vinho e talvez batata), mas aqui na parte de Ribafria e [na] zona de Palaios — que Palaios, Ribafria e o Mato têm uma espécie de microclima, ainda hoje, é uma espécie de um vale e é muito mais propício à cultura da cereja.

E era as vindimas, (…) uma época de muita comunidade, em que as pessoas se juntavam todas para vindimar, inclusive juntavam-se uns a ajudar os outros. Ainda conheci carros de bois. Verdade! Tenho 62 anos, mas ainda me lembro de ver vindima no Pereiro com o carro dos bois, puxados por uma "junta" — dois bois é uma junta de bois. (…). Ainda é conhecido, é um termo que se usa muito hoje que é a adiafa. A adiafa era a festa final. Mas a adiafa usava-se mais na vindima porquê? Porque era um trabalho mais sazonal e tinha de ser mais rápido, tinha um período muito curto para se fazer, mas a adiafa já é tradição (mesmo quando alguém tem um trabalho mais duradouro, um trabalho em que implique que as pessoas estejam mais dias faz-se a adiafa é uma recompensa uma homenagem a quem lá trabalhou, independentemente do pagamento). A adiafa era gira pelo convívio, (…) pelo bailarico que implicava, o convívio, o diálogo, o intercambio entre as pessoas que era uma coisa que na altura não havia assim tanto. Nós hoje temos meios de locomoção, (…) mas antigamente as pessoas andavam a pé, as pessoas tinham de andar a pé de aldeia em aldeia e também não havia os caminhos alcatroados como existem hoje, eram caminhos vicinais, caminhos de lama, então o dia da adiafa era um dia de festa. Não era aquela festa como a religiosa, de tradição, mas é uma festa bonita, porque, epá, era bonita… juntavam-se, era o momento de se conhecerem e travarem conhecimentos, e eventualmente arranjar namoricos.

(…) Antigamente [havia] muitos (…) arrendatários, mas o arrendamento aqui não era muito em dinheiro, é muito conhecido o termo, qualquer pessoa da nossa freguesia sabe que é o "terço". Havia outros métodos mas o mais vulgarmente conhecido é o "terço". Na época da recolha do produto, fosse o que fosse, duas partes para o rendeiro, outra parte para o arrendatário é o "terço", é o método de pagamento que se usava na altura das vindimas.”

 

Enrolar o arame

“Ainda me lembro, havia aqui na nossa zona, agora já não há muito, mas houve uma altura em que havia algum trigo e depois havia aquelas máquinas, que já não existem, para debulhar e moer o trigo. (…) [E] a malta mais nova da escola, eramos miúdos, tinha um "tipo de profissão", ou de trabalho, que era de "enrolar o arame". (…) Nunca fiz, mas cheguei a ir ver. Havia aquele trabalho um pouco mais duro, depois de ceifado e debulhado o trigo na máquina — que é sempre complicado porque era verão e [fazia] muito calor—, os miúdos mais novos [com] aqueles arames para enfardar (…) [e] uma espécie de um aparelhómetro faziam aquilo para ganhar mais algum dinheiro. O que acabou depois com as tais eiras, chamavam-se a eira, aí juntava-se muita gente para trabalhar e até dormiam lá e tudo.”

 

A bugalhinha

“Nas festas das nossas aldeias, e o Pereiro é conhecido por isso, havia…chamava-se,… o nome mesmo característico [é] "jogar à batota". Nunca joguei, ainda hoje não gosto de jogar, não sou de jogos, mas ali o jogo era à batota (…), ou o chamado "jogo da bugalhinha". Opá, para muitas pessoas [o jogo] trouxe alguns motivos de infelicidade e problemas. (…) Um individuo, 1 ou 2, com uma pequena banca e um aparelhómetro — que [era] um gasómetro (aquilo levava um gás) — e então a malta jogava ali. Sempre que havia bailarico ou sempre que havia festa era tradição haver o jogo da batota. E às vezes havia outras coisas piores que era alguma violência, chegava a haver "porrada" por causa disso. Porque dentro das possibilidades das pessoas no meio em que estavam inseridos, no meio social, às vezes gastavam mais do que podiam e depois gerava problemas. Mas a batota era tradicional — bailarico, festa [e] a bancada da batota estava sempre montada (…). Isso era tradição, uma tradição "negativa", mas era uma tradição. Era um copo com 1 dado, 1 ou 2 dados, acho que era 2 dados, agora não vou precisar, era um copo com uns dados (…) e depois eles jogavam os dados e mediante lá as regras do jogo, ganhavam ou perdiam e também havia das cartas — isso aí ainda era pior (…), isso não cheguei a assistir, mas ainda hoje se assiste no ilusionismo: é um x de cartas, trocavam as cartas e depois há 1 carta que é premiada, mas o indivíduo que tinha a banca conseguia ludibriar aquela gente toda e quase sempre perdiam, quem ganhava era a banca e depois havia problemas, né?”

Freguesia: Ribafria e Pereiro de Palhacana