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Até ao 25 de Abril de 1974, as condições de vida em Sobral de Monte Agraço, como em grande parte de Portugal, eram extremamente precárias, especialmente nas zonas rurais. A sociedade portuguesa vivia sob o regime autoritário do Estado Novo, marcado pela falta de liberdade, pelo isolamento económico e social e por uma profunda desigualdade. Nas palavras de José Lourenço, que reside na Chã e começou a trabalhar aos 11 anos, as dificuldades eram evidentes desde a infância. “Saí da escola com 11 anos e comecei logo a trabalhar (…) num forno de telha e tijolo” (como o descrito no livro Esteiros de Soeiro Pereira Gomes). Segundo José “às vezes, quando as coisas não andavam bem, trabalhava o chicote. (…) Crianças com 11 anos queriam brincar…”. Este testemunho reflete a dura realidade de muitas famílias portuguesas, onde o trabalho infantil era comum devido à precariedade económica.

Maria Isabel Sabino, Olívia Dinis e Lucinda da Piedade @memoriamedia

As aldeias de Sobral de Monte Agraço, como a Chã, estavam desprovidas de infraestruturas básicas, como saneamento, água canalizada e eletricidade. Olívia Dinis descreve a sua infância nessa aldeia. Conta que o pai fazia “um buraco no chão, cobria com uma tábua” e era lá que faziam as suas necessidades. João Coelho, de Sobral de Monte Agraço e João Lourenço, da Chã, referem que este cenário era típico de muitas localidades onde a falta de infraestruturas básicas tornava as condições de vida insalubres. Apenas na vila de Sobral de Monte Agraço, na Sapataria e em Pêro Negro, existiam condições de habitabilidade mais adequadas, como água canalizada e esgoto​. Na Chã, a eletrificação só chegou em 1975, com a intervenção do Movimento das Forças Armadas.

No campo da educação, o acesso era limitado e as condições escolares eram muito pobres. Valentim Lourenço, da Sapataria, descreve como as escolas rurais eram extremamente básicas: “Era uma sala (…) para quatro classes, (…) com cerca de 40 alunos. A escola não tinha eletricidade (…) não tinha casas de banho, as meninas iam fazer as necessidades a uma casota velha que havia ali desabitada, e os rapazes iam mais para o lado, de baixo de uma nogueira. Alguns colegas meus de escola vinham descalços, e outros muito remendados.” Além disso, muitas crianças iam a pé para a escola na vila, andando vários quilómetros sujeitas à chuva e ao frio.

 Valentim Lourenço e Isidro Trogeira @memoriamedia

Isidoro Trogeira, da Sapataria, recorda que, após completar a quarta classe, não pôde continuar os estudos porque a família não tinha condições financeiras para pagar o passe de transporte até à cidade de Torres Vedras. A falta de acesso à educação era uma das grandes limitações ao progresso social para as classes mais baixas.

No que diz respeito à alimentação, o cenário era igualmente marcado pela escassez. As refeições eram simples e frugais, muitas vezes compostas por alimentos básicos. Maria Isabel, da Chã, recorda que as refeições eram preparadas com o pouco que havia disponível, usualmente batatas e sopa de legumes. A carne e o peixe eram reservados para ocasiões especiais. As crianças, muitas vezes, iam para a escola com refeições muito simples, pouco nutritivas.

Além das dificuldades materiais, havia um profundo sentimento de repressão política e social. António Henrique, da Seramena, lembra-se da atmosfera de censura e medo que prevalecia antes da Revolução dos Cravos. “Toda a gente tinha medo de falar (…). desconfiávamos todos uns dos outros”. A polícia política do regime, a PIDE, controlava os sinais de oposição, e até nas pequenas comunidades rurais, o medo de ser denunciado era constante.

 

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