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As eleições de 1969 e 1973 marcaram momentos importantes para a oposição em Sobral de Monte Agraço. Embora as eleições fossem amplamente reconhecidas como fraudulentas e manipuladas pelo Regime, elas ofereciam uma oportunidade para a oposição se organizar e mobilizar a população.

A família Biancard Cruz, especialmente através da figura de Joaquim Biancard Cruz, desempenhou um papel fundamental na resistência ao regime do Estado Novo em Sobral de Monte Agraço. Biancard Cruz, já falecido, era um empresário local que, ao contrário do que seria expectável para alguém da sua classe social, era um opositor fervoroso do regime.

Joaquim Biancar Cruz @memoriamedia

Descrito como irreverente e "fora do seu tempo" pelo seu filho, ele recusava-se a aceitar passivamente o governo ditatorial e envolveu-se ativamente em movimentos de oposição. A sua participação política foi notória, desde a organização de redes de apoio à candidatura do general Humberto Delgado ao envolvimento na CEUD (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática) nas eleições de 1969, que promovidas como "democráticas" pelo regime, foram vistas como uma oportunidade para a oposição ganhar visibilidade, apesar da repressão política e das limitações impostas pela censura e pela PIDE.

À época, Biancard Cruz organizou em Sobral de Monte Agraço, num prédio pertencente à sua família, localizado na Rua da Misericórdia, um comício que contou com a presença de figuras proeminentes da oposição ao Estado Novo, como Mário Soares, Salgado Zenha, a doutora Maria Barroso e o arquiteto Ribeiro Telles. O comício reuniu um grande número de pessoas, que encheram o espaço do evento e, num encontro pós-comício, o restaurante Arcada. Este acontecimento mostra que, mesmo em localidades como Sobral de Monte Agraço, existia uma resistência organizada e empenhada. Embora as eleições não tenham resultado em mudanças significativas, este evento marcou um momento crucial na luta contra a ditadura.

Nas eleições de 1973, as forças de esquerda também tentaram usar o processo eleitoral para desafiar o regime. No entanto, a repressão foi severa, e as eleições acabaram por ser vistas como uma “farsa”. João Coelho participou nessas eleições e recorda que a CDE (Comissão Democrática Eleitoral) usou o período de campanha “para passar a mensagem”, mesmo que, mais tarde, tivesse decidido desistir das eleições. João Coelho refere que foi o advogado Teófilo Cabral dos Santos, revolucionário de Alenquer, que organizava jantares de confraternização no 5 de Outubro que, num desses encontros, o convidou a orquestrar, em 1973, pouco antes das eleições legislativas, uma sessão de esclarecimento promovida pela CDE em Sobral de Monte Agraço. João Coelho recorda como o evento teve lugar “num antigo lagar de azeite” (que pertencia à família Biancard Cruz). Esta sessão decorreu sob vigilância apertada da Guarda Nacional Republicana, que enviou 4 jipes de Loures e durante o encontro, a GNR impediu que alguns participantes falassem, limitando as intervenções aos candidatos a deputados e ao presidente, o que demonstra a pressão e censura que continuava a marcar a vida pública. Um dos participantes tentou ler um poema, mas foi interrompido pela força policial. João Coelho tentou terminar a leitura do poema, mas também foi impedido de o fazer. A campanha foi usada para passar a mensagem de oposição, mas sem legitimar o processo eleitoral. Esta decisão foi comunicada na sessão de Sobral de Monte Agraço por dois dos candidatos, Vítor Dias e Luísa Amorim, que acabariam por não concorrer.

A década de 70 viu a continuação destas movimentações, até ao culminar da Revolução.

 

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