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A Guerra Colonial, que se desenrolou nas colónias portuguesas de 1961 a 1974, teve um impacto profundo no país e, por consequência, também em Sobral de Monte Agraço. Esse impacto fazia-se sentir tanto na vida dos soldados que foram mobilizados como nas suas famílias. Muitos jovens da região foram chamados para lutar em África, e as suas experiências marcaram a memória coletiva da comunidade. Entre os entrevistados, as memórias de Moçambique, Angola e Guiné são uma parte central das suas histórias de vida, muitas vezes carregadas de dor, sofrimento e perda.

António Henrique @memoriamedia

Muitos jovens foram enviados para as colónias e voltaram com traumas psicológicos. António Henrique, da Seramena, fala dos desafios de readaptação à vida civil e descreve as suas dificuldades após a guerra, destacando o stresse pós-traumático que afetou muitos dos combatentes que regressaram ao país. “Os barulhos do frigorífico a fechar faziam-me mandar-me para baixo da mesa”, recorda António, referindo-se aos episódios de ansiedade que continuaram a assombrá-lo muito depois de ter voltado para casa. Para ele, o trauma da guerra tornou difícil retomar uma vida normal, com o seu corpo a reagir instintivamente a sons que lhe recordavam os combates. Este tipo de trauma era comum entre os ex-combatentes, que frequentemente não recebiam o apoio psicológico adequado na época, levando a anos de sofrimento em silêncio. O trauma de guerra e a inutilidade percebida do conflito, fez com que muitos, ao voltarem, questionassem o sentido da guerra e a política colonial do regime. Para muitos, como Valentim Lourenço, da Sapataria, a guerra parecia sem propósito, uma luta fútil num território estrangeiro que pouco ou nada tinha a ver com as suas vidas em Portugal.

A guerra também impulsionou atos de resistência, com alguns jovens a questionar a legitimidade do regime e recusando-se a lutar, optando pela deserção. Na aldeia de Barqueira, por exemplo, houve vários desertores que permaneceram escondidos na comunidade até ao 25 de Abril. A Barqueira ganhou a reputação de “Moscovo local”, onde os ideais de resistência floresciam, e a solidariedade comunitária oferecia abrigo e apoio a quem necessitava de fugir da repressão estatal.

José Lourenço, da Chã, também recorda a difícil experiência da guerra onde, mesmo que não se esteja na linha da frente o “coração também sofre” ao ver tantos jovens a morrer.

Em suma, as experiências da Guerra Colonial, tanto para os que combateram como para as suas famílias, deixaram cicatrizes profundas. Para muitos, o 25 de Abril foi não só uma libertação política, mas também o fim de um pesadelo que durou mais de uma década e, para muitos outros, o regresso não foi sinónimo de paz, mas de uma luta contínua para recuperar a normalidade.

 

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