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Em Sobral de Monte Agraço, como em grande parte do território português, viveu-se décadas de repressão durante o regime do Estado Novo, que foi marcado pela censura, repressão política e vigilância constante da PIDE. No entanto, a resistência ao regime manifestou-se de diversas formas, tanto através de ações clandestinas quanto pela participação em eleições “manipuladas”. Testemunhos locais, como os de João Coelho, Célia Granja, Maria Alexandrina, António Henrique e Joaquim Biancard Cruz, ilustram os desafios e as formas de luta desenvolvidas contra a ditadura nas décadas que antecederam o 25 de Abril.

Célia Granja @memoriamedia

Nos anos 40 e 50 o regime já estava consolidado sob o comando de António de Oliveira Salazar, e o controle sobre a sociedade portuguesa era severo. No entanto, as movimentações de resistência começaram a surgir, ainda que de forma muito tímida e principalmente a partir de círculos restritos. Joaquim Biancard Cruz recorda que o seu pai e tio já faziam parte do MUDE (Movimento de Unidade Democrática), uma organização antifascista criado em 1945 que pretendia contestar o regime de Salazar. Refere que o seu pai e o seu tio foram dos que apoiaram a campanha do general Humberto Delgado, nunca chegaram a ser presos, mas estavam sempre “na linha da frente”. Este movimento representou uma das primeiras tentativas de organização mais consistente contra o regime, que se intensificaria nas décadas seguintes.

Os movimentos de resistência em Sobral de Monte Agraço continuaram a crescer, com o Partido Comunista Português (PCP), a desempenhar um papel central na oposição clandestina. A presença do PCP na região era significativa, com muitos habitantes ligados ao partido ou simpatizantes das suas causas. Os militantes comunistas mantinham redes de distribuição de materiais informativos, como exemplares do jornal “Avante!”, desafiando a repressão da polícia política.

Os laços de solidariedade entre os habitantes de Sobral também desempenharam um papel crucial na organização de ações de resistência. Célia Granja, da Barqueira, recorda como o seu pai, que tinha um estabelecimento comercial, servia de ponto de encontro para a disseminação da informação política através da Rádio Moscovo ou a Rádio Portugal Livre. Numa época em que a liberdade de imprensa era inexistente, a circulação de material de oposição ao regime era feita de forma clandestina, muitas vezes recorrendo à colaboração de comerciantes locais, que tinham acesso a informação e a contactos fora da região. Este tipo de resistência passiva, embora menos visível, contribuía para o crescimento da consciência política e para a mobilização contra o regime.

João Coelho recorda uma situação em que ajudou a transportar um clandestino que precisava de se deslocar até Torres Vedras. Fê-lo, sem questionar os motivos do pedido feito por elementos do Partido Comunista, também não questionou a pessoa que transportava na sua própria viatura do Sobral até Torres. Ainda hoje diz não saber quem ele era, como se chamava e o que estava a fazer na região. A solidariedade entre os opositores ao regime era essencial para que a clandestinidade pudesse sobreviver.

 

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