Isto é uma flor. Estou-lhe a dizer que isto é uma linda flor que está a flutuar no cimo da serra. Joaquim, Moleiro.
Joaquim António Lopes, partilha as suas memórias e experiência ligadas aos moinhos de vento. Neto de moleiros, desde criança acompanhou a atividade da moagem, adquirindo gosto e conhecimento sobre a construção e o funcionamento dos moinhos. Apesar de ter seguido outra profissão, pedreiro, a vida de Joaquim volta a entrelaçar-se com os moinhos a partir do momento em que é chamado para reconstruir um e depois outro e outro moinho. Hoje é moleiro neste moinho recuperado pela Câmara Municipal de Sobral de Monte Agraço. Acumula a sabedoria da meteorologia e sinais dos ventos, com o conhecimento profundo da estrutura e funcionamento do moinho tradicional.
Lembra-se de, em criança, andar a distribuir a farinha que os avós produziam, transportando em burros e machos talegos com 10 kg.
Relembra ainda o tempo em que os moinhos funcionavam em todo o Oeste e os moleiros se reuniam na Feira de São Pedro em Torres Vedras para conversarem e comprarem búzios.
Cláudia Nico, agricultora com terrenos em Sobral e Arruda, trouxe trigo Barbela para ser moído no moinho e fala-nos da evolução dos trigos atuais e da necessidade de voltarmos a produzir farinha a partir de variedades locais.

A paisagem do Oeste de Portugal, moldada pela proximidade do Atlântico e pelos ventos constantes, é pontuada pela presença dos moinhos de vento. Mais do que estruturas antigas, estes guardiões de pedra e madeira contam a história de uma região, da engenhosidade dos seus habitantes e da sua ligação à terra e aos recursos naturais.
Historicamente, os moinhos de vento foram elementos cruciais na economia rural do Oeste. Cada moinho era um centro de atividade, um ponto de encontro e, muitas vezes, o sustento de várias famílias. As suas velas, girando ao sabor do vento, eram um espetáculo constante que marcava o ritmo da vida. A sua construção, reflete o conhecimento e a adaptação às condições climáticas específicas de cada local.

Com o avanço da tecnologia e a industrialização, muitos destes moinhos perderam a sua função original e caíram em desuso. Contudo, nas últimas décadas, tem-se assistido a um renovado interesse pela sua preservação e valorização. Vários concelhos do Oeste, como Sobral de Monte Agraço, Cadaval, Bombarral, Lourinhã, Torres Vedras e Mafra, têm investido na recuperação destas estruturas, transformando-os em importantes pontos de interesse turístico e cultural. Alguns são museus vivos, onde os visitantes podem aprender sobre o processo da moagem e a vida dos moleiros.
Para além do seu valor histórico e cultural, os moinhos de vento no Oeste de Portugal são hoje também símbolos de sustentabilidade. Numa era em que se procura cada vez mais a produção de energia limpa e renovável, estas antigas estruturas recordam-nos que a força do vento sempre foi uma fonte de energia viável e ecológica. A sua presença na paisagem é um lembrete visual da importância de harmonizar a atividade humana com os ciclos naturais do planeta.