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Os Círios no concelho de Alenquer representam uma das tradições mais antigas e enraizadas da região. Desde a Idade Média, comunidades organizam peregrinações anuais honrando promessas, romarias que envolvem procissões com estandartes e imagens sagradas, deslocações a Santuários ou Ermidas, missas campais e rituais carregados de simbolismo. Para além de celebrações religiosas, estes eventos funcionam como polos de união local de elevada importância comunitária: as famílias preparam juntas a festa, organizam peditórios para financiar as comemorações e transmitem a tradição de geração em geração. 

O Círio de Olhalvo à Senhora da Nazaré constitui uma das mais duradouras manifestações culturais de cariz religioso do concelho de Alenquer, contando com uma história que lhe confere mais de cinco séculos. Enraizado na Freguesia de Olhalvo, este Círio anual representa um pilar fundamental da identidade cultural e social das comunidades de Olhalvo, Penafirme da Mata e Pocariça. 

O trabalho aqui apresentado — contextualização teórica e recolha/registo etnográfico do Círio de Olhalvo — explora as origens históricas, a caracterização e evolução da prática, o património material e imóvel associado, e as perspetivas para a sua continuidade no futuro. A abordagem metodológica baseia-se na interligação de fontes primárias e secundárias, com testemunhos orais registados entre 2024 e 2025 nas diferentes localidades que participam nesta celebração. De referir que o registo etnográfico do Círio foi concretizado em setembro de 2024, ano em que a sua organização esteve sob a responsabilidade da localidade da Pocariça, através da Associação Recreativa. 

Círio do Olhalvo, pormenor
Pormenor da chegada do Círio ao Olhalvo

Para além do Círio de Olhalvo à Senhora da Nazaré, que será aqui abordado, importa referir outros dois Círios ainda em atividade no concelho de Alenquer: o Círio da Labrujeira, que conduz os fiéis até à Ermida de São Jorge no último fim de semana de agosto (uma curta distância dentro do concelho de Alenquer) e o Círio de Vila Chã, celebrado em torno de 8 de setembro, em honra de Nossa Senhora da Misericórdia (Moita de Ferreiros). Nestas ocasiões, os moradores das aldeias – incluindo localidades vizinhas como Casais Galegos – juntam-se para acompanhar a Bandeira do Círio até ao destino sagrado, cumprindo rituais seculares de fé e agradecimento. É comum realizar-se uma missa solene no local de devoção, seguida de convívio festivo, o que reforça o caráter comunitário do evento.  

No concelho, já extintos, mas à época de grande prestígio e muito frequentados, eram os Círios a Santa Quitéria de Meca, os Círios a Nossa Senhora da Piedade da Merceana e o Círio de Casais Brancos e Vale Benfeito à Senhora dos Remédios em Peniche.

A relevância dos Círios para as comunidades envolvidas é multifacetada. São eventos vividos como uma parte intrínseca da identidade local. Por exemplo, os participantes assíduos do Círio de Olhalvo à Senhora da Nazaré, Nelson Costa (Olhalvo) e Susana Valente (Pocariça), expressam esta profunda ligação ao afirmar que o Círio é “parte da nossa história” e “faz parte de nós”, funcionando como um elemento que “identifica as pessoas” e serve como uma referência forte para as suas vidas. Para além da sua dimensão identitária, o Círio é um catalisador de coesão social. O Padre João Sobreiro, da paróquia de Olhalvo, descreve-o como um evento de “comunhão e fraternidade” que gera “relação” entre os participantes, promovendo um sentido de união e pertença.

Aceder a documento sobre o Círio (PDF)

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