Ana Rosa

Moinhos da Capucha

Serra da Vila - Torres Vedras

Ana Rosa guarda uma memória de infância que lhe é muito querida: a visita a uma tia que, para receber a família, servia chá preto e pão com uvada. Um paladar que recordava frequentemente e por isso começou a fazer uvada em casa. Mais tarde, em 2012, cria os Moinhos da Capucha dedicando-se a produtos tradicionais que têm por base o uso do vinho. É nesse contexto que elege a uvada como um dos principais produtos a promover e comercializar.

Esta produtora destaca como uma das particularidades da receita o “processo demorado” exigindo “muita paciência, muito tempo, muita disponibilidade, muito amor. Nada nos pode perturbar quando estamos a fazer a uvada, porque quando dermos por isso, se formos fazer outras coisas, a uvada já não é uvada, passa a ser carvão, porque queima com muita facilidade”. Nas suas receitas, Ana Rosa opta por castas nacionais, como o Touriga Nacional e o Castelão, mas já experimentou Syrah, Merlot e Fernão Pires. Defende que a uvada, do ponto de vista energético e pelo facto de não ter açúcar, é benéfica para alimentação.

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Maria da Conceição Gomes

Doces da Ribeira

Ribeira de Pedrulhos – Torres Vedras

Maria da Conceição Gomes já fazia uvada quando era ainda “uma garota”. Aprendeu a receita com a mãe e recorda-se dela juntar abóbora ao arrobe. Aos 16 anos começou a trabalhar e até aos 20 não fez uvada por não ter disponibilidade. Quando se casou voltou a fazer uvada, agora sem necessidade de ir ao “rabisco” (aproveitando os cachos esquecidos durante as vindimas) pois tinha vinhas e usava o mosto da sua produção.

Hoje, nos Doces da Ribeira, para fazer uvada usa mosto de várias castas, sobretudo Santarém. Depois junta maçãs diversas, por exemplo Fugi, Reineta e Bravo Esmolfe. Foi das primeiras pessoas a levar a uvada para as Festas da Cidade de Torres Vedras, há cerca de treze anos. Recorda que nessa altura produzia-se pouca uvada, “nada comparado com o que se produz e vende atualmente”.

 

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Joaquim Gomes

Terras de Dinossauros

Ameal – Torres Vedras

Depois da uvada ter “caído no esquecimento” Joaquim Gomes assume-se como um dos primeiros produtores a recuperar a receita e fê-lo através de uma conhecida, já idosa, que transmitiu, a ele e à sua esposa, o modo tradicional de fazer este doce. De acordo com esses ensinamentos Joaquim reduz o mosto em arrobe, matéria que preserva durante o ano e à qual vai juntando a fruta para cozer e produzir a uvada. Segundo o que lhe contaram, antigamente usava-se muito o pero “ferro” para fazer este doce, “um pero agora em extinção”, mas que o pai também usava para tapar as bocas dos barris do vinho a fermentar.

Hoje, Joaquim Gomes produz os doces e produtos tradicionais Terras de Dinossauros e para confecionar a sua uvada compra mosto de produtores de S. Mamede e usa as maçãs Bravo de Esmolfe e Royal Gala.

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Paula Sarreira

Conservas a Oeste

Vila Facaia – Torres Vedras

Paula Sarreira tem a memória visual da avó a fazer a uvada no chão do quintal, num “tacho de arame sobre uma fornalha”. Porém, Paula só começou a fazer este doce em 2015, quando iniciou um negócio de transformação de frutas e legumes da zona Oeste - a Conservas a Oeste. Nessa altura, a convite da Junta de freguesia de A dos Cunhados, participou nas Festas da Cidade de Torres Vedras apresentando a receita de uvada da avó, recuperada com a ajuda da mãe.

Atualmente, sem escolher castas específicas, compra mosto de uva tinta e usa as maçãs que produz (por exemplo, Fugi, Reineta e Granny Smith). Em relação à receita da avó, não cozinha as frutas durante tanto tempo, fecha o doce a vácuo não necessitando de fazer uma uvada tão concentrada. Paula Sarreira é de opinião que a uvada, sendo um produto doce e natural é um substituto saudável do açúcar - lembrando que já a avó usava o arrobe para adoçar as papas de abóbora. Recentemente, criou uma gama de “doces sem açúcar” inspirada no processo da uvada, juntando outras frutas ao arrobe, por exemplo framboesas.

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Eusébio Marques

EUMA – Tradição no Sabor

Ribeira de Matacães – Torres Vedras

Interessado em produzir e comercializar produtos regionais Eusébio Marques criou a EUMA – Tradição no Sabor e começou a fazer uvada há quatro anos. Aprendeu a receita com a mãe e lembra-se de, na sua infância, ir ao “rabisco”. Recorda que pisavam as uvas para extrair o mosto, usualmente da casta Santarém.

Hoje, Eusébio vai buscar o mosto à Quinta do Juncal, em Matacães. Para a uvada tinta usa diversas castas e para a uvada branca usa Fernão Pires. Na última produção usou maçãs Bravo Esmolfe, Golden e Fugi.  Devido à qualidade e pelo “valor da tradição”, Eusébio testemunha o interesse das pessoas neste doce e está otimista em relação ao seu futuro, “principalmente pelo seu potencial, podendo ser introduzido num número diversificado de receitas de pastelaria e cozinha”.  

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