Lã ©Memória Imaterial

Recolha: a recolha da lã acontece entre maio e junho, quando as ovelhas são tosquiadas. Dos contatos que a cooperativa tem com os criadores locais, a lã é comprada ou outras vezes é-lhes oferecida pelos criadores, uma vez que a maioria não lhes daria qualquer utilização. A lã vem tal como é retirada das ovelhas, ou seja, com muita sujidade e com a gordura própria dos animais, pelo que é necessário proceder à sua lavagem.

Lavagem: a lavagem da lã na oficina é feita com recurso a vários alguidares. Colocam a lã em água morna, sempre à mesma temperatura, e vão trocando as águas. Utilizam um pouco de detergente neutro e através das várias lavagens a lã vai perdendo a sua gordura.

Secagem: a lã é seca ao ar livre. Os pedaços maiores são estendidos numa padiola e os mais pequenos são pendurados numa corda.

Limpeza: depois da secagem a lã é limpa de todos os lixos e impurezas (carrapatos, pauzinhos, ervas, etc.) de forma manual.

Escolha/seleção: escolhe-se os pedaços de lã mais compridos e em melhores condições, ou seja, mais fofos e sem detritos. Normalmente depois desta seleção a lã volta a ser lavada e seca.

Cardar: a lã é cardada com as escovas para desfazer as fibras. Separa-se a lã em pedaços, esticam-se os fios nas cardadeiras e com estas raspa-se em sentidos contrários para separar as fibras até conseguirem a consistência necessária. Por vezes, na cardação, trabalham-se logo os tons, misturando lã branca com lã castanha, ou misturando pedaços de lã tingida para formar outros tons.

Fiar: a lã é fiada de forma artesanal com uma máquina de fiar que tem uma roda e é movida a pedal. A lã é colocada em tufos, inicialmente com a ajuda de um fio de algodão, e o fio vai sendo esticado e torcido, podendo ser mais grosso ou mais fino, consoante o que se pretende.

 

Fiar ©Memória Imaterial

Urdir e montar a teia

Depois de feito o fio e os novelos, o trabalho seguinte é realizado na urdideira que é uma peça de madeira paralelas, guarnecidas de pregos de madeira ou ferro, em que se urdem os ramos da teia. Este processo é complexo e demora algum tempo, cerca de 1 a 2 dias para uma peça de tamanho médio.

Na urdideira, ata-se uma extremidade do fio no início da urdideira e vai-se passando o fio de um lado para o outro, de acordo com o número de fios que vão ser necessários para o tamanho da peça. Depois é feita uma cruz, e volta-se a passar o fio de um lado para o outro no sentido ascendente. Normalmente trabalham com cerca de 300 a 500 fios. Uma das formas para contar os fios é contar o número de cruzes.

No final, atam-se as cruzes com um fio de algodão para não se separarem, e é feita uma trança para levar a urdidura para o tear.

Urdir ©Memória Imaterial

Tecer a peça

A trança que sai da urdideira é levada para o tear, e aí, através da cruz, vão tirando os fios um a um e colocando nos dentes do pente. Depois cada um é colocado nos liços/quadros consoante o trabalho que vai ser realizado. Normalmente o primeiro fio é colocado no liço do primeiro quadro, o segundo fio no segundo quadro e assim em diante.

Depois disso, os fios são atados na vara. A vara vai ficar presa ao cilindro, e o fio é ali enrolado. Para que os fios não se agarrem tem que se utilizar algo para separar as camadas. Na oficina utilizam papel. Antigamente as tecedeiras usavam varinhas de louro para este efeito. Este é um trabalho complexo, normalmente executado por duas pessoas, cada um de um dos lados do tear. Os teares têm dois rolos. De um lado fica o fio para trabalhar e no outro rolo vão ficando as peças enroladas.

Trança ©Memória Imaterial

O processo de tecer a peça consiste na passagem da trama pela teia, através da naveta (uma espécie de agulha gigante), que faz o cruzamento dos fios. Depois o trabalho é realizado com os pedais. Cada pedal faz levantar um quadro. Normalmente trabalham com 2 ou 4 quadros, por isso têm 4 pedais.

É através da pedalagem que se define o desenho da peça: “(…) uma coisa é fazer 1,2,1,2, ou 1,3,2,4, para cruzar. Se quiser fazer um desenho mais complexo os pedais já trabalham de outra forma.” (Catarina Abreu).

Os pontos mais utilizados na tecelagem que é realizada na oficina são o tafetá e a sarja. Os desenhos dependem do trabalho ou da encomenda que estão a realizar, e da liberdade que têm na confeção de cada peça.

Liços ©Memória Imaterial

Depois de terminado o processo de tecelagem no tear, os fios são cortados e a peça é retirada para que se façam os acabamentos, que podem ser bainhas ou franjas.  É ainda necessário atar a teia no tear, o que é feito através de nós, no cilindro, para que possa ser utilizada novamente.