A lenda da ermida
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O Caseiro e o relógio
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O nome dos animais
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A pantação de milho
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Os vedores
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A lenda da ermida
A lenda da ermida
Dionísio Santos
O Caseiro e o relógio
O Caseiro e o relógio
Dionísio Santos
O nome dos animais
O nome dos animais
Dionísio Santos
A pantação de milho
A pantação de milho
Dionísio Santos
Os vedores
Os vedores
Dionísio Santos
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Categoria: PCI / Saber-Fazer
Local do registo: Casais Brancos
Freguesia: Aldeia Galega da Merceana
Concelho: Alenquer
Data do registo vídeo: 1-6-2021

Título: MEMÓRIAS e TRADIÇÕES - Alenquer
Entrevistados: Dionísio Natividade
Ano nascimento: 1948
Entrevista: Memória Imaterial
Transcrição: CLDS4G

A lenda da Ermida

“Eu quando conheci aquela Ermida já ela estava em ruínas, diziam que era a Ermida da Jamerca (…). Havia uma senhora que tinha um terreno ao lado - com feijão [e] milho semeado. Pediu água para Ermida dela: “Venha água lá para a minha Ermida, venha água para a minha Ermida”, veio uma trovoada tão grande que levou-lhe o terreno e tudo.

Deus castigou-a [porque] ela só queria água para a Ermida dela, veio uma trovoada… Mas não foi que eu visse, eu 'tou a falar pela boca dos antigos. (risos) Os antigos é que diziam isso.

A água agora que lá 'tá a correr é dos depósitos que fizeram porque essa água foi explorada para ir aqui para Casais Brancos, para o Paiol e para Aldeia Galega. Na Aldeia Galega, lá na frente da igreja 'tá lá um fontanário, a água era dali. Foi quando deram cabo de uma estátua que havia lá, (…) que era da rainha (não sei qual era a rainha). Havia a casa da rainha na Aldeia Galega e ali era a fonte da rainha (…). Tinha uma coisa em cimento e em azulejo, tinha a fotografia da rainha, porque a rainha quando vinha de Lisboa passava ali na Aldeia Galega, da Aldeia Galega passava por aqui e ia direito para Caldas. Ali davam de beber aos cavalos (…).

Essa água foi explorada para vir para aqui e para a Aldeia Galega e para o Paiol. Agora desativaram e corre ali aquelo riachozinho cá para baixo. Aquela zona, que agora está tudo de eucaliptos, aquilo era tudo hortas. (…) Em todo o lado que eu visse um buracozinho com pouco mais de 1 metro de fundo tinha lá água, aquilo era um lençol de água”.

 

O caseiro e o relógio

“Naquele tempo nem tínhamos ordem de usar relógio no trabalho. Agora usa-se tudo e mais alguma coisa. Naquele tempo não se tinha ordem de usar relógio, quem usava relógio era o caseiro — chamavam caseiro [a] quem governava (governava mal) e era dado pelo patrão (…). Eu fiz a 4º classe, o meu pai deu-me um relógio, mas era para estar em casa, só quando era o domingo (…) — as paródias eram ao domingo, e os bailaricos eram só ao domingo—, era quando eu levava o relógio para fazer uma grande figura ao pé das raparigas.”

 

O nome dos animais

“Ainda hoje (…) 'tou lá a criar (uma é do meu filho, outra é minha) duas porquinhas são as Janeiras. Vieram em janeiro, meti-lhe as Janeiras (…).

O meu pai tinha uma burra, era a Joana. Tudo tinha nome, tudo, tudo, tudo. Os animais tinham nome, punha-se. A minha sogra tinha lá um burro chamava-lhe Morais, o dono da farmácia ali da Merceana chamava-se Morais, o homem estava lá ao pé da minha sogra e a minha sogra assim: “Vá lá ver Morais… anda para diante!”, “Ahhh ti Benvinda você deu o meu nome ao seu burro!” (risos).

 

A plantação de milho

“(…) Antigamente não havia colchões como há agora (…). Todos os anos o colchão era despejado, aquilo ia-se desfazendo, (…) depois renovava-se. Tirava-se a boa [a palha de milho desfiada] do outro ano e depois [punha-se] mais nova para o colchão ficar cheio.

O milho (agora já há máquinas para isso), mas antigamente não era com mangual à porrada e ele depois era crivado (…).

O milho ia para os animais ou levava-se a um moinho para fazer pão. Faziam uma cruz quando acabavam de amassar, (…) depois metiam um pano por cima, metiam farelos (como o farelo vinha da farinha né), (…) quando o farelo 'tivesse a estalar 'tava a massa a jeito de ir para o forno. Pronto [explica]: isto é o alguidar onde 'tava a massa, punham um pano por cima a tapar a massa, metiam uma “manchinha” de farelos, depois a massa dava em crescer, quando a massa dava em crescer o farelo estalava e (…) estava a jeito de ir para o forno.”

 

Os vedores

“Uma varinha, uma de marmelo ou de oliveira ou assim, punha-se assim [levanta-se e caminha como se estivesse a curvar uma verga com as mãos], iam assim e quando ela desse em vergar ficava aqui. Depois (…) [caminhava-se] ao contrário (…). Tenho um filho que faz isso, sabe mais que o pai. Depois com uma corda, com uma corda e um relógio sabiam a fundura que tava a água.

Entrevistadora: "Portanto se dessem 4 passos era a 4 metros?!"

Dionísio: "Era 4 metros!"

Entrevistador: "Portanto o relógio estava com uma corrente?"

Dionísio: "Sim, era! Dava em abanar, quando desse em abanar dava os metros."

Freguesia: Aldeia Galega da Merceana